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O sono ajuda a transformar vivências em aprendizados

Depois de um dia de agenda lotada, falta energia para qualquer atividade e o corpo não pede outra coisa a não ser umas boas horas de sono reparador. Não é mesmo? Com as crianças e os bebês acontece a mesma coisa. Embora não tenham as responsabilidades de um adulto, a jornada diária deles também é cansativa, afinal, estão em constante movimento. É justamente por estarem o tempo todo em contato com novas experiências (que necessitam ser absorvidas e transformadas em aprendizado) que elas precisam dormir bem.

Para favorecer esse desenvolvimento, é de suma importância que alguns hábitos sejam estabelecidos desde cedo, pois é por meio de uma rotina de sono saudável que a estrutura psíquica e física da criança se estabelece. A neuropediatra Dra. Daniela Godoy, da Clínica N3 — Neurologia, Neurocirurgia e Neuropediatria, explica que o sono é um processo neurológico que organiza todo o funcionamento do corpo, como a limpeza do organismo, o ajuste da frequência respiratória, cardíaca e do rim, por exemplo. “Ele é um grande aliado da aprendizagem e da aquisição de memória, pois, enquanto dorme, a criança fixa o que vivenciou e desenvolveu durante o dia, seja na parte motora ou na cognitiva”, afirma. Além de ajudar no desenvolvimento intelectual, durante o período de descanso o corpo também libera os hormônios do crescimento.

A orientação para os pais é a implementação de uma regra com horário para dormir e acordar, mesmo aos fins de semana, seguindo a rotina e as particularidades da família. O processo de ensinar a criança a ter uma qualidade do sono deve ser sempre conduzido com amor e carinho, conforme frisa Dra. Daniela: “Não devemos deixar a criança chorando até se cansar e dormir. Alguns estudos mostram que essa atitude favorece a criação de memórias negativas que podem ter ligação com doenças psiquiátricas futuras”.

Existem alguns hábitos e enfermidades que pioram a qualidade do sono. Uma criança que tem acesso a programas com conteúdos incompatíveis com a idade dela, por exemplo, pode ter dificuldade para dormir. Já entre as doenças que prejudicam o período de descanso estão: refluxo, intolerância ou alergia alimentar, intestino preso e cólica. De acordo com a neuropsiquiatria, se a criança dorme agitada, mas acorda bem, não há problema, mas se fica agitada ou irritada durante o dia, é necessário procurar ajuda.

Consequências da privação de sono

A fisioterapeuta do sono da N3, Dra. Raquel Hirata, esclarece que o corpo humano tem um relógio biológico que funciona no ritmo circadiano (de 24 horas), regulador de todas as funções do organismo, como a digestão, o sono e o metabolismo. O maior sincronizador deste ciclo é a luz, que determina o dia e a noite e indica quando chega a hora de diminuir o ritmo e se preparar para o repouso. “Os seres humanos foram feitos para dormir à noite e ficar acordados durante o dia, sendo assim, quando vai escurecendo lá fora, naturalmente o corpo vai se preparando para descansar”, observa. Mesmo sendo noite, se no ambiente houver luz artificial, o processo do sono é prejudicado.

Se à meia noite a pessoa está em casa com a luz acesa, na frente das telas, fica difícil para o corpo entender biologicamente que é noite, e isso acaba atrasando o processo do horário de dormir e, como nem sempre é possível atrasar também o horário de acordar, ela acaba repousando menos do que o necessário”, exemplifica.

Pesquisas mostram que a privação do sono tem consequências negativas em todas as idades, mas nas crianças, de maneira especial, está associada a distúrbio do crescimento, obesidade, falta de controle emocional e até físico (pode tropeçar com maior frequência e cair mais). Isso ocorre porque o relógio interno que todos têm ainda não está bem desenvolvido nas crianças, sendo assim, a rotina de preparação para dormir é ainda mais importante para elas.

Quanto cada pessoa precisa dormir?

A quantidade ideal de sono noturno varia de acordo com a idade. Na primeira semana de vida, os bebês dormem em média 16 horas; já com seis meses, 14 horas são suficientes e, com dois anos, 12 horas. No primeiro ano de vida, é natural que a criança acorde até três vezes durante a noite, sendo que este número pode aumentar se houver aleitamento materno. Até a faixa etária de 3–4 anos, além do sono noturno também são recomendadas sestas de 30 a 40 minutos no meio da manhã e da tarde. Em média, as crianças dormem 10 horas, enquanto os adultos precisam de seis a oito horas de sono. Cada pessoa é diferente e precisa identificar o quanto necessita dormir.

Estabelecendo uma rotina

Antes de mais nada, é necessário entender que a criação de hábitos saudáveis que favoreçam a noite de sono começa na diminuição do ritmo de afazeres à medida que escurece. Também é fundamental optar por atividades relaxantes.

Confira abaixo algumas dicas importantes para fazer a higiene do sono com seu filho:

– Mantenha horários regulares para dormir e acordar;

– Ofereça alimentos mais leves à noite;

– Evite agitação ou estímulos depois que escureceu;

– Separe uma roupa confortável e garanta que o ambiente esteja com temperatura agradável;

– Uma hora antes de dormir, diminua a quantidade de luzes e não deixe que ele tenha acesso a telas (a exposição à luz inibe a produção do hormônio do sono, a melatonina);

– Leia um livro para ele ou com ele, conte uma história ou cante uma música calma.

Tudo deve ser feito com calma e respeitando a individualidade de cada família e de cada criança. Ajudar as crianças a dormirem bem trará diversos benefícios para um crescimento saudável e para o bem estar de toda a família.

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