Eletrodo cerebral para tratamento da obesidade é eficaz?
Procedimento cirúrgico minimamente invasivo tem 100% de precisão; paciente passa a ter maior saciedade com volume menor de alimento
Com o novo estilo de vida, impactado principalmente pelo consumo excessivo de frituras, produtos hipercalóricos, ultraprocessados e diminuição dos níveis de atividade física, a obesidade tornou-se um fator preocupante, visto que os números têm aumentado tanto entre adultos quanto em crianças. A estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de que em 2025, 2,3 bilhões de pessoas ao redor do mundo estejam acima do peso, sendo 700 milhões com obesidade. Muito além de uma questão estética, o excesso de peso pode causar malefícios à saúde, como problemas cardiovasculares, diabetes e hipertensão.
Combater a obesidade, no entanto, nem sempre é uma tarefa fácil, pois, para algumas pessoas, a dieta, a reeducação alimentar e a prática de atividade física não são suficientes para diminuir o peso corporal. Há casos em que até mesmo a cirurgia bariátrica não é a solução, pois existem síndromes metabólicas que fazem o indivíduo engordar e, mesmo buscando essas alternativas, ele não consegue emagrecer.
Para esses casos refratários, há indicação do implante de Eletrodo Cerebral Profundo, conhecido também por DBS, sigla em Inglês para Deep Brain Stimulation, que consiste em um procedimento cirúrgico no qual é implantado um eletrodo numa região específica do encéfalo, conectado a um gerador, chamado de neuroestimulador, que funciona como um marcapasso. “É uma cirurgia minimamente invasiva realizada com técnicas de monitorização de áreas importantes do cérebro”, explica Dr. Carlos Zicarelli, neurocirurgião da Clínica N3 – Neurologia, Neurocirurgia e Neuropediatria.
O eletrodo é implantado por meio de uma agulha que irá milimetricamente no ponto através de um furinho feito no crânio. Para o procedimento é utilizada a estereotaxia, aparelho que define o local exato, o que resulta em precisão de 100% no alvo. O eletrodo não precisa ser substituído com o passar do tempo, apenas o gerador, que tem durabilidade de aproximadamente 15 anos.
O neurocirurgião esclarece ainda que o eletrodo cerebral profundo atinge um alvo no hipotálamo, que é um centro de regulação da homeostase e, assim, estimula a liberação de dois hormônios relacionados à saciedade alimentar: a leptina e a grelina: “Ele age modulando a ação desses hormônios e, com isso, o paciente apresenta maior saciedade com menos volume de alimento, portanto, é uma cirurgia eficaz”.
Essa técnica de neuromodulação de núcleos cerebrais profundos é possível graças a avanços na tecnologia, e já é bastante utilizada em outros países, especialmente nos Estados Unidos, com protocolo mais amplo, inclusive para tratamento de doenças psiquiátricas como depressão refratária, transtorno obsessivo compulsivo e Síndrome de Tourette. No Brasil, o procedimento é utilizado há aproximadamente 10-15 anos para tratamentos relacionados à Doença de Parkinson. “Para pacientes de obesidade há poucos casos dessa cirurgia, acredito que por falta de conhecimento acerca dessa possibilidade”, comenta Zicarelli. Normalmente, a indicação para implantação de eletrodo cerebral profundo é feita por um gastroenterologista que encaminha o paciente para o neurocirurgião.