Neurologista explica quais são os sintomas mais frequentes, esclarece a importância da prevenção e cita formas de tratamento
Anualmente, de 16 a 17 milhões de pessoas no mundo morrem após um acidente vascular cerebral (AVC). No Brasil, é a segunda causa de mortalidade, responsável por 100 mil mortes ao ano, segundo o Ministério da Saúde. Estudos apontam que cerca de 70% daqueles que são acometidos por um AVC não voltam a trabalhar e 50% ficam com sequelas que causam limitações para execução de tarefas simples do dia a dia, como o cuidado com a higiene pessoal. Embora os números sejam alarmantes e preocupantes, o Acidente Vascular Cerebral ainda é motivo de muitas dúvidas em função da falta de conhecimento da população sobre as causas, sintomas, tratamento e maneiras de prevenir a doença.
Antes de mais nada, é importante entender que o AVC ocorre quando há entupimento ou rompimento de um vaso sanguíneo no cérebro, provocando a paralisia da área que ficou sem circulação de sangue. A doença é classificada em dois tipos: isquêmico, causado pela interrupção do fluxo de sangue para dentro de uma área do cérebro (responsável por 85% dos casos); e hemorrágico, que ocorre quando um vaso se rompe e há sangramento dentro do encéfalo (15% dos casos).
O neurologista e sócio-diretor da Clínica N3 – Neurologia, Neurocirurgia e Neuropediatria, Leonardo Camargo, explica que essa segunda forma da doença está mais relacionada a quadros de hipertensão arterial e, ainda que seja menos frequente, pode ser mais catastrófica. “Apenas pelos sintomas não é possível identificar se o AVC é isquêmico ou hemorrágico, só é possível ter essa definição por meio de uma tomografia de crânio”, comenta. Segundo ele, mesmo um acidente vascular cerebral isquêmico pode ser muito grave e deixar o paciente em coma para o resto da vida, e o que determina isso é a área do cérebro acometida pela interrupção ou redução drástica do suprimento de sangue.
Estar atento aos sintomas do AVC e procurar ajuda profissional adequada o mais rápido possível é fundamental, pois, quanto mais cedo o paciente for tratado, melhores serão seus prognósticos, visto que há tratamentos disponíveis para amenizar as sequelas, mas é preciso correr contra o tempo procurando um serviço de urgência (pelo telefone 192 do Samu ou pelo 193 dos Bombeiros) ou um hospital próximo capacitado para atender casos de acidente vascular cerebral. “Até quatro horas e meia após a ocorrência é possível, por exemplo, disponibilizar um medicamento que dilui o coágulo. Com tempo hábil, o profissional consegue, inclusive, desobstruir a artéria por meio de cateterismo antes da célula morrer”, esclarece o neurologista.
Dentre os sintomas mais frequentes estão: paralisia facial ou de um dos lados do corpo (afetando braços e/ou pernas); tontura incapacitante; dificuldade para falar, andar, enxergar; visão dupla; e alteração no nível de consciência. Embora o quadro do AVC possa piorar, seu início acontece de maneira súbita e, ainda que seja pequeno ou um ataque isquêmico transitório (AIT) – interrupção de sangue temporária que causa sinais semelhantes aos dois tipos de AVC -, demanda atenção imediata, pois pode ser o anúncio de que está por vir outro mais grave, especialmente nas horas e primeiros após o evento.
Prevenção e tratamento
A boa notícia é que existem formas de diminuir o risco de ter um AVC. Para tanto, é importante conhecer os fatores que aumentam as chances de ser acometido por um acidente vascular cerebral, seja ele isquêmico ou hemorrágico. Para as pessoas que nunca sofreram um Acidente Vascular Cerebral, as prevenções primárias são indicadas para minimizar as chances de ter a doença. As medidas incluem ter uma vida com hábitos mais saudáveis evitando sedentarismo, obesidade (desde a infância), excesso de bebida alcoólica, tabagismo e uso de drogas em geral. Dormir bem e evitar estresse são hábitos que favorecem a saúde e reduzem a possibilidade de AVC.
Também é imprescindível investigar a existência precoce de outros problemas de saúde como hipertensão, diabetes, colesterol, nível alto de triglicerídeos e arritmia cardíaca, por exemplo. “Pesquisas mostram que 90% dos casos de AVC poderiam ter sido evitados com a prevenção primária”, comenta Camargo. A incidência é maior entre os homens e aumenta com a idade, no entanto, nas últimas décadas, estudos têm demonstrado um aumento nos casos entre mulheres e jovens entre 15 e 18 anos em função do estilo de vida ruim de grande parte da população.
Estatísticas apontam que uma a cada três pessoas que tiveram uma isquemia tem 40% de chance de recorrência. Sendo assim, a prevenção secundária é indispensável para esses pacientes. Ela consiste em entender a causa do primeiro AVC (como acúmulo de gordura nas artérias, obstrução de pequenos vasos, problemas cardiovasculares, apneia do sono, trombofilia e relação familiar) e, a partir disso, associar os cuidados da prevenção primária a medicamentos. No caso de acidente vascular cerebral hemorrágico, o tratamento cirúrgico pode ser necessário para conter a hemorragia.
Com os estímulos certos, as áreas do cérebro afetadas pelo AVC podem se reconstruir aos poucos, dependendo da capacidade de moldar-se do sistema nervoso do paciente e da quantidade de células lesadas. O acompanhamento de uma equipe multidisciplinar com neurologista, psicólogo, terapeuta ocupacional e fisioterapeuta é muito indicado para casos de acidente vascular cerebral.