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Anticoncepcional e saúde do cérebro: qual é a relação?

Hematologista defende que a conscientização sobre os benefícios e os efeitos colaterais do contraceptivo é o melhor caminho para a escolha do método

Lançada nos Estados Unidos em 1960, a pílula anticoncepcional ganhou o mundo e, atualmente, a estimativa é de que mais de 100 milhões de mulheres façam uso desse método contraceptivo. Impedir a gravidez, tratar tensão pré-menstrual, cólica menstrual, excesso de menstruação e de hormônio masculino são alguns dos benefícios do anticoncepcional, já consagrado pela eficácia de aproximadamente 99%. No entanto, existem várias contraindicações e possíveis efeitos colaterais relacionados à sua utilização. 

Desde que a pílula surgiu no mercado, houve diminuição progressiva das doses de estrogênio e progestina e, com isso, os efeitos secundários, como tromboses e complicações cardiovasculares, foram reduzidos. Porém, por se tratar de um medicamento de uso contínuo por um número expressivo de mulheres que, por vezes, relatam seus efeitos nocivos, o anticoncepcional recebe olhar atento da Medicina e da Ciência.

De acordo com uma pesquisa realizada pela Universidade da Califórnia (UCLA), nos Estados Unidos, dentre os efeitos colaterais da pílula está a mudança da estrutura física do cérebro e de algumas de suas funções. Os cientistas notaram que duas regiões específicas do cérebro, o córtex orbitofrontal lateral e o córtex cingulado posterior, tendiam a ser mais finos nas mulheres que tomavam a contracepção oral. Para o estudo, 90 mulheres foram divididas em dois grupos: 44 que tomavam as pílulas regularmente e 46 que não.

Essas duas regiões do cérebro desempenham um papel importante na saúde das pessoas, conforme explica a hematologista e hemoterapeuta Flavia Mantine, da Clínica N3 – Neurologia, Neurocirurgia e Neuropediatria. O córtex orbitofrontal lateral é responsável por regular as emoções e a resposta a recompensas. Inclusive, mudanças no córtex orbitofrontal lateral podem ser responsáveis pelo aumento da ansiedade e sintomas depressivos que algumas mulheres sentem quando começam a tomar a pílula. Já o córtex cingulado posterior está envolvido com o pensamento interior-dirigido. Essa parte está relacionada à memória e ao desenvolvimento de planos para o futuro.

“Os cientistas ainda não determinaram se estas alterações neurológicas são permanentes. Em 2010, pesquisadores já haviam documentado que a pílula oral altera algumas partes do cérebro envolvidas na regulação do humor. No entanto, eles haviam descoberto que determinadas regiões tinham aumentado de tamanho”, comenta a médica. Ela acrescenta que, apesar de preocupante, “era de se esperar” que a pílula provocasse efeitos negativos no cérebro, pois os hormônios sexuais, como o estrogênio, influenciam (e muito) no sistema nervoso da mulher.

 

Tumor cerebral

 

O uso de anticoncepcionais por cinco anos pode dobrar as chances de câncer no cérebro em mulheres. Segundo estudo realizado por cientistas dinamarqueses, que analisou mais de 300 mulheres que sofreram da doença, a contracepção hormonal aumentou a chance da mulher desenvolver glioma cerebral, tipo raro de câncer. Apesar de aumentar risco, a doença é extremamente rara e a probabilidade de desenvolvê-la é baixa. Anualmente, cinco em cada 100 mil pessoas são acometidas por esse tipo de câncer. 

Conforme informações do jornal britânico The Telegraph, pouco se sabe sobre as causas de glioma e outros tumores cerebrais, mas há alguma evidência de que os hormônios sexuais femininos podem aumentar o risco de alguns tipos de câncer. Os contraceptivos hormonais que contêm hormônios sexuais femininos incluem anticoncepcionais orais, adesivos, injeções e implantes.

 

Eventos cardiovasculares 

 

Historicamente, há uma grande preocupação em torno do uso de contraceptivos orais e o aumento de eventos cardiovasculares, como infartos ou acidentes vasculares cerebrais. Contudo, esse problema ocorria com mais frequência décadas atrás, quando as pílulas eram compostas por elevadas doses de hormônios. A redução do teor de estrogênio nos últimos anos aumentou substancialmente a segurança da pílula. “Hoje em dia, o infarto do miocárdio é um evento extremamente raro em mulheres saudáveis em idade reprodutiva. O risco atual é de cerca de dois casos a cada 10 mil mulheres, ou seja, 0,02%”, compara a hematologista e hemoterapeuta da N3.

Ela explica que as pílulas que contêm estrogênio em doses iguais ou maiores que 50 mcg apresentam maior risco de provocar hipertensão arterial, principalmente em mulheres fumantes e/ou com mais de 35 anos. Sendo assim, além do fator idade, atualmente recomenda-se evitar pílulas com estrogênio nas mulheres com histórico de trombose venosa profunda ou embolia pulmonar, hipertensão conhecida (mesmo que controlada), cardiopatia isquêmica ou cardiomiopatia e fumantes. 

 

Trombose

 

Os riscos dos anticoncepcionais para a saúde tornaram-se conhecidos com o tempo e a relação entre as pílulas e trombose, especificamente, passou a ser amplamente discutida. Com a diminuição progressiva nas doses dos hormônios existentes nos anticoncepcionais orais, nas últimas décadas houve redução da incidência de complicações, porém, o risco de trombose venosa ainda existe. No entanto, em mulheres jovens e saudáveis, o risco é muito baixo. Embora o uso de anticoncepcional chegue a dobrar a incidência de eventos trombóticos em mulheres que usam pílula, ainda assim continua com um percentual próximo de 0,1%. As pílulas sem risco para trombose são as que contêm somente progestogênio.

Os anticoncepcionais orais, em geral, são contraindicados para pacientes fumantes, hipertensos, diabéticos, obesos, com enxaqueca, lúpus, varizes, doenças hepáticas, histórico de trombose ou câncer e outras mutações genéticas.

 

Uso consciente

 

“O contraceptivo esconde segredos que muitas mulheres desconhecem, e dos quais só se inteiram quando ocorrem seus efeitos colaterais”, comenta a doutora Flavia. Para ela, conscientização, tanto por parte dos médicos quanto das pacientes, é a palavra-chave para a utilização das pílulas. “Cada mulher deve ser analisada individualmente e, assim, receber a prescrição de um método contraceptivo conforme a sua necessidade e a sua saúde. A preferência sempre deveria ser por métodos não hormonais; dispositivos intrauterinos de cobre e o uso de preservativo são algumas das alternativas contra o perigo dos anticoncepcionais”, pontua.

A decisão por qual método usar será sempre da mulher, mas, por ser uma escolha importante, cabe ao médico orientá-la sobre o uso correto, possíveis efeitos colaterais e complicações que podem ocorrer, assim como as vantagens de cada pílula. É válido, e necessário, conforme a doutora Flávia, deixar claro para a paciente que existem várias vias de administração e vários tipos de combinações hormonais, assim como métodos de contracepção não hormonal. Diante das opções apresentadas, a paciente deve escolher o método que atenda à sua necessidade juntamente com o ginecologista, ciente dos seus riscos e benefícios. 

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