Black Friday e os gatilhos para a crise de ansiedade
O período de descontos e a ideia de oportunidade única para as compras podem prejudicar o bolso e também o bem-estar mental
Novembro anuncia seu fim e não nos deixa esquecer que está chegando o período de compras mais esperado do ano pelos comerciantes e pelos consumidores do Brasil, dos Estados Unidos e de demais países que dedicam a última sexta-feira do mês para negociar produtos e serviços com condições diferenciadas. A Black Friday bate à porta e muitos estão na expectativa de fazer boas compras em um período relativamente curto de 24 horas. É aí que mora o perigo.
Um estudo realizado pela startup de inteligência artificial Emotions Meter identificou que a ansiedade está entre as principais sensações do consumidor em relação à Black Friday, em usuários do Twitter, sendo que, quanto mais perto da data, mais intensa ela é. O sentimento de urgência provocado pelo marketing de escassez (estratégia que pressupõe que algo pode acabar a qualquer momento) associado à ideia de oportunidade única são características da data que podem aflorar a ansiedade – e até a compulsão por compras.
A psicóloga especialista em Neuropsicologia, Samanta Cóser, da Clínica N3 – Neurologia, Neurocirurgia e Neuropediatria, explica que, em níveis normais, a ansiedade é saudável, pois é um sentimento natural do ser humano, um mecanismo de defesa que o prepara para situações que irão acontecer. Em contrapartida, ela se torna um problema quando começa a aparecer com intensidade desproporcional ao que está acontecendo ou em situações descontextualizadas.
Batimentos cardíacos acelerados, agitação no corpo (pessoa inquieta), respiração ofegante (sensação de falta de ar), sudorese, pensamentos acelerados e preocupação excessiva são os sintomas mais comuns de uma crise de ansiedade.
Algumas situações podem ser gatilhos para quem sofre de ansiedade, como as propagandas que estimulam a corrida por preços imperdíveis na Black Friday, debates infindáveis sobre política (em período de eleições principalmente) e os jogos da Copa do Mundo. “Isso ocorre porque a pessoa que fica muito conectada ao que vai acontecer antecipa a angústia para tentar saber o que vai conseguir comprar na promoção, se seu candidato vai ser eleito ou se o time de sua preferência será campeão”, comenta Samanta, acrescentando que são gatilhos porque estimulam que os pensamentos não parem.
Quanto mais informações tiver, mais ansiosa a pessoa vai ficar, portanto, a primeira orientação da psicóloga para se “proteger” é evitar buscar informações o tempo todo sobre aquilo que pode desencadear a ansiedade. “É preciso entender que cada coisa tem um tempo para acontecer e que não adianta nos anteciparmos em pensamentos ou atitudes”, orienta.
Dicas para a Black Friday
As propagandas são muito bem feitas para convencer o cliente a comprar de imediato, sempre há um atrativo, que pode estar no preço ou na apresentação do produto ou serviço. Dessa forma, o consumidor é pego pelo impulso, por isso, é fundamental ter controle para não se empolgar diante das promoções.
A psicóloga da N3 cita algumas dicas que podem fazer toda a diferença na hora da compra: ao selecionar o que deseja adquirir, coloque o item no carrinho (se for online) ou vá até o provador (se for o caso de uma loja física de roupa, por exemplo), deixe o produto em stand-by um pouquinho e avalie se ele é realmente necessário para aquele momento, se dá para esperar e se o preço compensa.
“Se parar uns minutos para pensar de forma consciente sobre a compra, provavelmente, conseguirá tomar a decisão mais acertada, sem fazer a compra por impulso, mas sim porque realmente compensa pela necessidade, pelo valor ou pela oportunidade”, afirma.
Ansiedade no dia a dia
Algumas mudanças de hábitos são indicadas para diminuir a ansiedade. A começar pela boa qualidade do sono, é necessário aprender a se desconectar na hora de dormir, seja de notícias, de telas, atividades ou alimentos estimulantes. Ao acordar também é importante evitar contato imediato com fontes de gatilho. A orientação é ir acordando devagar, de forma que o organismo pegue aos poucos o ritmo do dia. É fundamental ter um hobby, um momento de lazer, de “desligar” o cérebro das preocupações do trabalho para relaxar o corpo e a mente.
Para os momentos de crise, Samanta explica que a primeira atitude é tentar se acalmar e trabalhar a respiração diafragmática para o organismo ir se recompondo para sair da crise. Para quem tem sintomas de ansiedade, é indicado o treinamento prévio de respiração para saber usar esse recurso quando for necessário.
Terapia e medicamento
É importante procurar um profissional capacitado para que, por meio da terapia, a pessoa identifique quais são os gatilhos que provocam a ansiedade e aprenda a lidar com esses sentimentos de forma que melhore a sua qualidade de vida e diminua os níveis de ansiedade. Em alguns casos há indicação para tratamento conjunto com psiquiatra ou neurologista para uso de medicação que alivie as crises.
Samanta alerta que, não tratada, a ansiedade pode chegar a níveis tão altos que deixam a pessoa em estado de alerta o tempo todo, inclusive durante o sono. Nesses casos, os pensamentos acelerados não permitem que ela se desconecte dos problemas ou das coisas que estão acontecendo ou que podem acontecer e essa condição passa a impedi-la de cumprir atividades cotidianas.